FCFA 2023
Vivências Analógicas

Imagens de Betina Polaroid.
Curadoria de Fábio Seixo.

Há alguns anos, o fotógrafo Beto Pêgo tornou-se fanático pela nova geração de drag queens, drag kings e artistas queer que surgia no Rio de Janeiro. Mas anônimo entre o público, protegido pela câmera, se via diante de um espelho, se enxergava naqueles artistas. Recordava sua infância e questionava o que transformou a criança espontânea num adulto rígido, normatizado, escondido atrás das lentes. Fotografar como um estrangeiro numa terra exótica, revelar o outro sem revelar-se, não fazia sentido, afinal sabia que aquele era seu lugar e aquela era sua gente. Era preciso transformar o desconforto em expressão: sair do armário novamente, através do espelho. Apontando a câmera em sua própria direção, nasce Betina Polaroid.

O trabalho de Betina se insere no próprio corpo da artista, que se inspira no universo da fotografia para dar forma à sua persona drag. A câmera Polaroid é aparato fotográfico e amuleto drag, que resgata as memórias da infância e as reinventa. A fotografia contamina a drag como também é contaminada por esse universo. Seus retratos, cheios de intervenções, trazem referências da arte e cultura pop numa sobreposição de fotos instantâneas, glitter, filtros e paetês. Betina fotografa e refotografa, ora analogizando uma imagem do celular, ora digitalizando polaróides. Essa operação visual/conceitual aponta não somente caminhos estéticos e performáticos, como também e, principalmente, para novas formas de expressão de um corpo que se quer cada vez mais livre e fluido.

No FCFA 2023, Betina traz uma versão editada da montagem original, feita com o Ateliê Oriente, Betina apresenta trabalhos selecionados das Fotomontações, série de retratos high camp de artistas que foram suas inspirações, seus espelhos; trabalhos selecionados da série de autorretratos que inclui as obras Espelhos, Películas, a videoinstalação Fluido e trabalhos produzidos para sua participação no Drag Race Brasil, como o vestido Gisele Bicha.